Os cães selvagens eram animais que viviam longe das pessoas. Moravam nas florestas, onde tinham suas tocas, e viviam em matilhas. Isso significava que sempre estavam acompanhados, como uma grande família de cães. Eles nunca prestavam atenção nos humanos e nunca iam para a cidade. Até que, em um dia estranho, tudo mudou.
Na cidade, vivia um menino a quem todos chamavam de Guardinha Florestal. Esse apelido surgiu porque ele adorava ir à floresta todos os dias. Observava os animais, colhia frutos silvestres e aprendia a reconhecer as plantas da região. Seus pais ficavam felizes por verem o quanto ele amava a floresta e, por isso, permitiam que ele passeasse livremente por lá. O Guardinha Florestal gostava tanto daquele lugar que, se pudesse, moraria ali para sempre.

Certa tarde, ao entrar na floresta, algo inesperado aconteceu.
Enquanto caminhava por sua área preferida da floresta, o céu escureceu de repente, e nuvens carregadas surgiram, pegando-o de surpresa. Sem tempo para encontrar abrigo, as primeiras gotas logo começaram a cair, seguidas por relâmpagos que cortavam o céu e trovões que ecoavam por toda parte. Em questão de instantes, uma forte tempestade se formou, deixando o Guardinha sem reação.
Ele correu em direção à casa, mas a chuva estava intensa deixando-o completamente encharcado. O vento soprava tão forte contra seu rosto, que dificultava ainda mais a visão do caminho, não permitindo que ele visse um palmo à sua frente.
Correndo o mais rápido que podia, ele acabou escorregando na lama. A queda foi tão brusca que ele não conseguiu se segurar em nada, fazendo com que ele batesse sua cabeça em uma pedra. O Guardinha Florestal estava caído no chão lamacento da floresta, com a chuva ainda caindo sobre ele. Sentia frio, a cabeça girava, e uma dor intensa na perna o impedia de se levantar. Sem saber o que fazer, permaneceu ali, indefeso.
De repente, um focinho frio encostou em seu rosto, cheirando-o. Com a chuva forte e a tontura, sua visão estava embaçada, e ele não conseguia ver o que era. Logo, sentiu o animal segurar delicadamente sua jaqueta e puxá-lo para um abrigo, uma caverna protegida da chuva. Quando percebeu que já não estava mais se molhando, adormeceu de exaustão.
Quando acordou, a tempestade havia passado, e o frio já não era tão intenso. Olhou ao redor e, para sua surpresa, estava cercado por cães selvagens. Eles o aqueciam com seus corpos e cuidavam dele. O menino nunca havia visto uma matilha como aquela antes. Ele sabia que esses cães viviam na floresta, mas ninguém jamais os tinha visto tão de perto.
“Obrigado! Vocês me salvaram”, disse ele, acariciando-os com gratidão.
Então, o maior dos cães se levantou e se posicionou de forma que o Guardinha pudesse se apoiar e subir nele, encostando levemente os pés no chão. Devagar, eles seguiram em direção à cidade, com os outros membros da matilha acompanhando.
Enquanto isso, os pais do menino o procuravam desesperadamente. O medo e a angústia cresciam a cada minuto. De repente, viram uma matilha de cães surgindo da floresta, e, em cima do maior deles, estava seu filho.
Sem hesitar, os pais correram em sua direção, o pegaram e o abraçaram com lágrimas nos olhos. Os cães permaneceram ali, observando. Foi então que o Guardinha se virou para eles e chamou: “Não tenham medo! Venham até mim!”. A matilha se aproximou com cuidado. “Muito obrigado”, continuou o menino. “Sem vocês, eu não teria conseguido. Assim que eu melhorar, prometo visitá-los. Trarei os melhores petiscos para cães e vocês poderão vir à cidade sempre que quiserem. Ninguém vai machucá-los aqui. Eu prometo!”. Com carinho, acariciou cada um dos cães, e eles, em retribuição, lamberam seu rosto com afeto.
Assim que se recuperou, o Guardinha Florestal cumpriu sua promessa. E continuou visitando seus salvadores com frequência, levando os melhores petiscos. Os cães o aceitaram como parte da matilha, e, todos os dias, esperavam ansiosos pela visita do amigo humano na floresta.