Sobre Oto, o menino que sempre gritava e berrava

Era uma vez um menininho chamado Oto. Ele seria um garoto normal como todos os outros, se não fosse por uma característica estranha e desagradável. Oto estava sempre gritando e berrando. Mas não como as outras crianças. Seu grito era tão forte que quem o ouvisse ficava com as orelhas torcidas em forma de cone.

Sua mãe e seu pai estavam tristes com isso. Oto gritava até durante as refeições. Mal mastigava uma mordida e já gritava de novo. Depois colocava outra colher na boca, havia um breve momento de silêncio, até que os gritos começavam novamente. Oto gritava até dormindo. Embora não fosse tão forte quanto durante o dia, ainda era perturbador e irritante. Principalmente para os vizinhos, que não gostavam nada daquilo e à noite batiam nas paredes e gritavam com a mãe e o pai para que fizessem algo a respeito, já que não dava para dormir daquele jeito.

Contos para dormir - Sobre Oto, o menino que sempre gritava e berrava
Sobre Oto, o menino que sempre gritava e berrava

Os pais perceberam que precisavam curar o Oto daquela gritaria de alguma forma. Não apenas por causa dos vizinhos, mas também porque Oto logo iria para a escola. E você pode imaginar como seria se Oto gritasse a aula inteira e não deixasse a professora falar.

Um dia, um especialista em gritos infantis, o Doutor Calado, veio à casa deles. Era um homem quieto e discreto, com óculos e barba. Ele observou Oto atentamente, ouviu seus gritos por um momento e então apenas balançou a cabeça.

“É um caso difícil de gritaria infantil, mas vamos lidar com isso. Eu tentaria tampá-lo”, disse o Doutor Calado, que entregou aos pais uma chupeta e uma rolha de cortiça. “Para casos mais leves de gritaria infantil, basta uma chupeta. Quando a criança tiver que ficar quieta, damos a chupeta para que ela chupe. Se a chupeta não for suficiente, usamos a rolha.”

Os pais ficaram felizes e agradeceram ao Doutor Calado pela sua prescrição. Ficaram um pouco menos entusiasmados com a conta do tratamento, mas fariam qualquer coisa para acabar com a gritaria.

Naquela noite, Oto recebeu uma chupeta para chupar. Por um momento, parecia que o tratamento estava funcionando. Oto rolava a chupeta na boca, às vezes fazia barulhinhos com ela, mas então respirou fundo e começou a gritar, esmagando a chupeta com os dentes. Papai correu, arrancou a chupeta da boca de Oto e tampou a boca que gritava com uma rolha de cortiça. Oto ficou em silêncio de surpresa, respirou fundo e então soltou um grito tão alto que a rolha voou de sua boca, bateu na parede e voou pela janela. O tratamento não tinha funcionado.

No dia seguinte, os pais chamaram o Doutor Calado novamente e lhe contaram que o tratamento de Oto não funcionou.

“Bem, o caso de vocês parece incurável”, declarou o Doutor Calado. “Nesse caso, vocês teriam que costurar a boca dele.”

Isso assustou os pais. Isso não é possível, como Oto iria comer? Agradeceram ao Doutor Calado, mas decidiram não continuar o tratamento.

Então continuaram a quebrar a cabeça sobre o que fazer com Oto. Ele não poderia ir para a escola gritando daquele jeito. Se ele não fosse à escola, não aprenderia nada e não encontraria nenhum trabalho. E isso não poderia acontecer. Ele precisaria se sustentar quando crescesse. Enquanto os pais pensavam, Oto continuava alegremente a gritar, talvez ainda mais forte do que antes.

Os pais foram interrompidos em seus pensamentos por batidas na porta. Era difícil ouvir por causa do barulho, mas alguém estava batendo forte na porta. Papai foi até lá, abriu e ficou completamente surpreso.

“Recebemos uma mensagem de que há um incêndio na sua casa. Você não está ouvindo a sirene? Já era para vocês estarem fora de casa há muito tempo”, gritou o chefe dos bombeiros.

“Desculpe, mas deve haver algum engano”, gaguejou o pai. “Isso não é uma sirene, é o nosso Oto gritando assim. Sabe, ele tem uma forma incurável de gritaria constante. O Doutor Calado disse que isso se chama berritite crônica.”

O chefe dos bombeiros foi ver Oto para se certificar de que não era realmente um alarme falso. Quando viu com seus próprios olhos, balançou a cabeça.

“Isso é terrível. Você sabe quantos bombeiros seu filho chamou aqui? E completamente à toa. Você vai pagar pela saída de cinco diferentes corporações de bombeiros”, disse o chefe.

O pai implorou para que não ficasse tão bravo, que não era tão grave assim. Uma saída não é nada tão terrível. Mas e eles, os pais? E Oto? Ele nem poderia ir à escola, não aprenderia nada e ainda teria a vida arruinada.

O chefe dos bombeiros coçou atrás da orelha e depois bateu na testa.

“Tive uma ideia. Que tal levarmos seu garoto para o nosso quartel de bombeiros? Vamos treiná-lo para ser bombeiro e ele ainda fará o papel da sirene.”

“Mas ele grita sem parar, às vezes até de noite”, avisou o pai de Oto ao chefe dos bombeiros.

Mas ele apenas acenou com a mão. “Nós daremos um jeito nisso.”

E assim, Oto foi morar com os bombeiros. Os pais se mudaram para um apartamento ao lado, para poder visitá-lo várias vezes ao dia e levar guloseimas para ele. Oto logo se tornou um bombeiro. E os gritos? Foram diminuindo. Os bombeiros correm muito, pulam obstáculos e treinam constantemente educação física, e é muito difícil gritar durante tudo isso. Após o treino, Oto estava tão cansado que não tinha forças para gritar e dormia profundamente. Além disso, ele gostava muito da rotina, então, aos poucos, foi esquecendo de gritar. E sempre que havia um incêndio, ele berrava como uma sirene, tanto que não precisava chamar os bombeiros duas vezes. Mas, por precaução, eles deixam Ota gritar toda primeira quarta-feira do mês, para que ele possa berrar à vontade e não soar como um alarme acidentalmente quando não há nenhum incêndio.

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