Era uma vez, há muito tempo, uma linda menina que nasceu para um casal muito feliz. Porém, certa noite, enquanto todos dormiam, uma bruxa levou a criança embora. Os pais organizaram buscas por toda a região, mas a menina não foi encontrada em lugar nenhum.
Depois de anos, acabaram desistindo. A mãe, consumida pela tristeza, adoeceu e morreu. O pai ficou sozinho, vivendo cada dia com a esperança de que sua filhinha um dia retornasse.

A menina, no entanto, vivia na floresta profunda, numa cabana com a velha bruxa. Para que jamais pudesse falar, a feiticeira lançou um feitiço que roubou sua voz. Com o tempo, a criança cresceu e se tornou uma jovem muito bonita, de longos cabelos negros como a noite e olhos verdes como esmeraldas. Mas sua vida era sempre a mesma: pastorear as ovelhas da bruxa, lavrar o campo e, ao fim do dia, recolher-se ao quartinho empoeirado do sótão. Assim se passavam todos os seus dias.
Quando tinha um momento de descanso no pastoreio, gostava de se sentar na relva, sob o sol, e refletir sobre a sua vida. Por que aquele destino lhe havia sido reservado? Por que a velha não gostava dela? Onde estariam seus pais? Não sabia de nada, pois a bruxa não lhe permitia sair. Se ousasse vagar um pouco além, seria amaldiçoada ou castigada severamente. Ainda se lembrava do dia em que perdeu uma ovelhinha e, como punição, ficou três dias sem comer.
Certo dia ensolarado, soprava uma brisa suave quando um jovem cavaleiro parou diante dela, montado em seu cavalo branco e falou:
“Saúdo-a, bela donzela. Estou de passagem, mas não sei qual caminho seguir. Procuro o castelo dos Girassóis. A senhora poderia me orientar?”, perguntou o rapaz, que logo despertou simpatia na moça.
Ela fez apenas uma reverência, encolheu os ombros e balançou a cabeça, triste.
“Não sabe mesmo?”, insistiu o rapaz.
A moça balançou a cabeça outra vez, em silêncio.
“Mas… por que não fala?”, perguntou ele, intrigado.
Sem responder, ela virou-se com tristeza e voltou ao trabalho.
O rapaz partiu, mas ficou pensativo. Dias se passaram, e ele não tirava a jovem da cabeça. Perguntou por ela em muitos lugares, mas ninguém parecia conhecê-la. Até que uma velhinha, ouvindo suas perguntas, resolveu aconselhá-lo:
“Perdoe-me, rapaz, não sei quem é essa donzela, mas acho que sei o que lhe aconteceu. Dê a ela estas ervas e diga: Que o feitiço se desfaça e tua voz retorne. E então ela mesma lhe contará quem é.”
O príncipe agradeceu à vovó e decidiu tentar. Seguiu pelo caminho onde tinha visto a moça pastoreando. Para sua sorte, ela estava lá novamente, entre as ovelhas.
“Saúdo-a, bela donzela. Tenho pensado em você todos esses dias e procurei por toda a terra até encontrá-la. Uma bondosa senhora me deu estas ervas e disse que deveriam ser para você.”, disse o príncipe, entregando-lhe um pequeno saquinho.
A moça fez uma reverência, como antes. O príncipe recitou as palavras:
“Que o feitiço se desfaça e tua voz retorne!”
De repente, a jovem olhou para ele com espanto e disse, com voz frágil:
“O-obrigada, bondoso senhor.”
“Quem é você?”, perguntou ele, maravilhado por ver o feitiço se desfazer.
“Eu me chamo Ana. Moro com uma bruxa… ela me enfeitiçou para que eu nunca falasse. Nunca me contou nada sobre meus pais.”, respondeu ela, com tristeza.
“Eu sou o príncipe Felipe, da Terra do Sol. Você não voltará mais para junto dessa velha. Virá comigo para o meu reino. Lá eu a apresentarei aos meus pais e pedirei sua mão em casamento. Você me encantou com sua beleza e seu bom coração.”, declarou o príncipe.
Ana se assustou:
“Agradeço, Felipe… mas eu tenho medo da bruxa. Ela certamente irá me procurar, e pode querer fazer mal a você também.
“Não tenha medo, Ana. Eu protegerei você. Meus exércitos são fortes, e se essa bruxa ousar entrar em nossas terras, verá o que acontece!”, respondeu, com coragem.
Ana, aliviada, partiu com Felipe. No início, estranhou a nova vida: tanta comida, lindos vestidos, carinho e cuidado que nunca tivera. Até os reis, pais de Felipe, logo se afeiçoaram por ela. E os preparativos do casamento começaram.
Mas um dia a bruxa realmente apareceu na região, gritando pela sua “menina perdida”. Como Felipe havia prometido, os soldados a capturaram e, ainda naquele dia, ela foi condenada e queimada na fogueira.
Pouco tempo depois, Felipe e Ana celebraram um grande e belo casamento, e viveram felizes até o fim de suas vidas.