Muito além de sete montanhas e sete rios, no alto de um pico, em um castelo suntuoso, vivia uma princesa tão bela que seu rosto encantador era assunto em todo o reino. Seu aposento era peculiar — tinha doze janelas, e, quanto mais ela avançava da primeira até a última, mais longe conseguia enxergar. Da décima segunda janela, a princesa podia ver todo o seu império — dos picos das montanhas até os cantos mais escondidos debaixo da terra.
Era inteligente e astuta, e não pretendia se casar com ninguém que não demonstrasse engenhosidade. Por isso, declarou que só se casaria com quem conseguisse se esconder de tal forma que ela não o encontrasse nem mesmo olhando da décima segunda janela. Quem falhasse seria banido do reino por sete anos.

A notícia do desafio se espalhou por toda parte, e muitos nobres tentaram a sorte em vão. A princesa se divertia com tudo aquilo, pois não tinha pressa nenhuma em se casar.
Certo dia, três irmãos chegaram ao reino decididos a tentar. O mais velho se escondeu em um buraco, mas a princesa o avistou logo da primeira janela. O irmão do meio se escondeu no porão do castelo, mas também foi descoberto com facilidade. Os dois foram expulsos do reino.
Por fim, apresentou-se o irmão mais novo, um rapaz bonito e inteligente chamado Pedro. Ele pediu três tentativas.
“Se me encontrar pela terceira vez, partirei para sempre!”, prometeu.
A princesa aceitou. Aquele jovem lhe era simpático, mas, ainda assim, acreditava que ele não teria sucesso.
O jovem pensou durante muito tempo, mas nenhum esconderijo lhe parecia bom o suficiente. Decidiu então ir à floresta caçar, para clarear as ideias.
Levantou a espingarda e mirou num corvo, mas antes que pudesse atirar, o corvo gritou:
“Não atire! Ainda poderei ser útil a você.”
Pedro baixou a arma e deixou o corvo em paz.
Seguiu adiante e avistou um peixe no lago. Novamente levantou a espingarda, mas o peixe lhe chamou:
“Não atire! Um dia eu te ajudarei.”
E o rapaz seguiu seu caminho e o deixou nadar.
Mais adiante, no caminho da floresta, encontrou uma raposa mancando. Apontou para ela, mas a raposa suplicou:
“Não atire, por favor! Em vez disso, tire o espinho da minha pata.”
Pedro se abaixou e a ajudou com delicadeza. A raposa agradeceu e prometeu que, se algum dia ele precisasse, ela o ajudaria.
O dia chegou ao fim, e o jovem ainda não havia encontrado um esconderijo. Lembrou-se então do corvo e o chamou. O pássaro apareceu, trouxe um ovo, quebrou-o cuidadosamente, escondeu Pedro dentro dele e juntou as cascas. Depois, levou o ovo para seu ninho e sentou-se sobre ele.
No dia seguinte, a princesa começou a busca. Espiou pela primeira janela — nada. Pela segunda — ainda nada. Foi avançando: terceira, quarta, quinta… até que, da décima primeira janela, percebeu algo estranho no ninho do corvo. Mandou quebrar o ovo, e lá estava o jovem escondido.
Para a segunda tentativa, Pedro recorreu ao peixe, que o escondeu dentro de sua barriga e mergulhou até o fundo do lago. Dessa vez, a princesa precisou olhar pela décima segunda janela para encontrá-lo.
“Você só tem mais uma chance”, advertiu ela.
Desesperado, o jovem procurou a raposa. Ela mergulhou em uma fonte da floresta e, ao emergir, havia se transformado em um elegante mercador.
“Agora é sua vez”, disse ela a Pedro.
Ele mergulhou na fonte e, num instante, transformou-se em um adorável porquinho-da-índia.
O mercador levou o bichinho até a cidade e, em pouco tempo, a fama da criaturinha de pelo macio chegou aos ouvidos da princesa. Encantada, ela quis comprá-lo. O mercador se inclinou discretamente para o porquinho-da-índia e sussurrou:
“Quando a princesa for olhar pelas janelas, esconda-se debaixo da trança dela.”
A princesa começou a busca. Primeira janela… nada. Segunda… nada. E assim foi até chegar à décima primeira. Trêmula, abriu a décima segunda e olhou em volta, em vão. Frustrada, bateu a janela com força. Nesse instante, sentiu algo se mexer sob sua trança.
Assustada, agarrou o porquinho-da-índia, jogou-o no chão e gritou:
“Desapareça da minha frente!”
O jovem correu até a fonte, mergulhou nela e voltou à sua forma original. A raposa fez o mesmo. E então sorriu, desejou-lhe sorte e desapareceu na floresta.
Ele retornou ao castelo. A princesa, contrariada, teve que admitir que ele havia cumprido suas condições. E, mais do que isso, percebeu que havia gostado dele. Houve então um grande casamento, com festas que duraram sete dias e sete noites.
Sobre como havia conseguido se esconder tão bem, Pedro nunca lhe contou. De qualquer forma, a princesa provavelmente não acreditaria.
Ela entendeu que quase perdeu sua felicidade por causa de seus caprichos e se tornou uma jovem sensata e uma rainha sábia. Pedro, com seu coração bondoso, foi um bom marido e um excelente rei. E assim, os dois viveram felizes para sempre.
Sobre a princesa que tudo via , excelente conto, fantasioso o suficiente para prender atenção e desejar conhecer o desfecho. Adorei ! e tenho 70 anos !