Atrás de uma floresta, havia um grande moinho que ficava girando constantemente. Lá, moravam um moleiro e uma moleira, que produziam farinha para toda a aldeia. Ao lado do moinho, havia um lago com uma superfície brilhante, que era cuidado pela sereia Raquel. De vez em quando, a água espirrava e uma bolha aparecia, porque o lago estava cheio de carpas.
As carpas nadavam felizes. Raquel era uma boa sereia que fazia de tudo para que os peixes do seu lago estivessem bem. Ela sempre se sentava na árvore de salgueiro sobre a água e comia os bolinhos que a moleira deixava na janela para ela. Raquel ficava atenta para que tudo estivesse como deveria, mas nem sempre era tão tranquilo assim.
Certa vez, Raquel estava sentada em sua árvore, quando sapos pularam até ela e gritaram: “Raquel, venha salvar o peixinho! Ele ficou preso em uma armadilha. Mas não é uma armadilha de pescadores, é algo diferente. Nunca vimos algo assim! Não conseguimos libertá-lo. Rápido, por favor!”.
A sereia rapidamente pulou da árvore e nadou para o outro lado do lago atrás dos sapos. Quando chegou lá, ficou chocada. A carpa se debatia na margem, enrolada em um tipo de sacola e não conseguia sair. Raquel chegou bem a tempo de libertar o peixinho e o colocar de volta na água. Depois, pegou a armadilha estranha na mão, começou a examiná-la e pensou no que aquilo estava fazendo no seu lago.
O peixinho, ao sair da armadilha, disse: “Obrigado por ter me ajudado, Raquel. Mais um pouco e eu teria me sufocado. A armadilha estava flutuando perto da margem do lago com uns restos de comida dentro. Eu fiquei tentado a dar uma mordida, então cheguei perto dela. Antes que pudesse comer algo, me enrosquei e fiquei na margem sem água”.

A sereia se despediu da carpa e agradeceu aos sapos por chamá-la e terem ajudado a salvar o peixinho. Mas ela precisava descobrir de onde tinha vindo aquela armadilha e quem ousou poluir seu lago. Ela então combinou com os sapos de fazer patrulhas. Eles se revezariam de dia e de noite, observando quem se aproximava do lago e o que estavam fazendo por lá. Por alguns dias, nada aconteceu.
Até que, certa noite, justamente quando Raquel e dois sapos estavam fazendo a patrulha, um homem estranho sentou-se à beira do lago. A sereia se lembrava dele, pois às vezes o via chegando no moinho para pegar farinha. O homem se aproximou do lago, olhou para a superfície e então tirou um lanche enrolado em uma sacola. Assim que terminou de comer, levantou-se e jogou a sacola com o resto de comida no lago.
A sereia ficou horrorizada. “Não pode ser! Este é o meu lago, onde vivem minhas amigas carpas. Lixo vai para a lixeira, não para o lago. Eu vou mostrar para ele!”, pensou. O senhor estava se preparando para sair quando, naquele momento, Raquel pulou na frente dele. Ela gritou: “Agora!”, e assustado na escuridão, o senhor cambaleou e caiu direto no lago, que começou a se agitar. As carpas começaram a bater nele e nadaram ao seu redor tão rápido que um redemoinho se formou. Os sapos pularam em sua cabeça. O senhor ficou batendo com as mãos, chamando por ajuda.
Depois de um tempo, Raquel deu um sinal para que os sapos e os peixes o deixassem em paz. O senhor se arrastou até a margem e virou-se para a sereia: “Obrigado por ter dito para eles pararem. Eu estava com medo de me afogar”.
“Eu não deixaria você se afogar. O que eu ganharia com isso? Não é minha intenção. Só queria que você se assustasse e visse como é”, respondeu ela. “Como assim? Visse como é o que?”, perguntou o homem.
“Assim como você se debateu na água e teve medo, meu amigo peixinho se debateu na margem também. Ele ficou preso no lixo que você jogou no lago e quase morreu por sua causa. Se você quer vir ao lago, nunca mais jogue lixo na água. Me prometa!”, disse Raquel severamente. O homem ficou envergonhado. Ele não tinha percebido o quanto sua bagunça poderia causar problemas.
Desde então, isso não aconteceu mais. O senhor passou a visitar o lago com frequência, sempre se lembrando do que não deveria fazer. Ele não queria que algo ruim acontecesse aos peixinhos ou a qualquer outra criatura por causa dele. Pelo contrário, ele levava petiscos para as carpas e bolinhos para a sereia. Depois, eles se sentavam juntos sob a árvore e ficavam conversando. E até hoje, eles observam a superfície brilhante do lago juntos.