Você sabe quem é um “espreitador”? Sou eu. Pareço uma pilha de pelos pretos com grandes olhos de gato. Tenho garras afiadas com as quais arranho móveis à noite e patas que espiam debaixo dos cobertores. Bem, eu deveria fazer isso. Mas eu gosto tanto dessas crianças. Às vezes, eu os observo secretamente durante o dia, quando meus pais e meu irmão estão dormindo.
Elas são tão fofas. Elas jogam jogos incríveis e eu adoraria muito, muito brincar com elas. Mas, obviamente, eu não posso. Sou uma criatura noturna. E à noite as crianças dormem, então não posso me divertir com elas.
Agora percebi que não me apresentei. Meu nome é Sustinho e sou um espreitador. Eu moro em um apartamento no sétimo andar de uma grande cidade com minha família. Meu irmão Sussurro é exatamente o meu oposto. Ele adora sair à noite para arranhar e assustar as crianças. Mamãe e papai o elogiam por isso. Eles dizem que eu já sou grande o suficiente para sair assustando também. Em breve, dizem, chegará minha grande noite.
Não demorou muito e esse dia chegou. Assim que escureceu, eu deveria ir ao quarto das crianças para assustá-las e puxar os pés delas que ficam para fora dos cobertores.
“E arranhe bem”, piscou para mim Sussurro, seus olhos brilharam na escuridão. Não me surpreende que as crianças tenham medo dele. Senti um arrepio na espinha por causa dele.
Escorreguei silenciosamente pela fresta atrás do armário. Cuidadosamente, caminhei em direção às camas onde as crianças dormiam tranquilamente.
“Você precisa bufar e pisar mais forte,” falou para mim meu irmão Sussurro, que ficou atrás do armário, se inclinando para não perder nada.
Certo, então. Bufar mais.
“Fú, fú, fú.”
Algo se mexeu no berço. Eu os acordei?
“Fú, fú, fú”, bufei novamente e bati um pouco os pés.
“Mamãe, mamãe”, ouviu-se da caminha.
Rapidamente me escondi debaixo da cama e esperei até que os passos no corredor se aproximassem. A porta se abriu, pernas entraram no quarto – mais do que isso eu não conseguia ver de debaixo da cama. Alguém acendeu uma pequena luz.
“O que foi, Amália?”, perguntou uma voz feminina. Eu reconheci, era a mãe deles.
“Você deve ter esquecido de fechar a janela. Está ventando aqui”, disse Amália sonolenta.
As pernas foram até a janela.
“A janela está fechada. Acho que você estava sonhando, querida. Durma bem. Boa noite.”
A luz se apagou, os passos se afastaram e a porta se fechou.
Chegou novamente a minha vez. Bufar não é muito comigo, então é melhor eu deixar isso de lado. Pisei cuidadosamente na ponta das patas e me esgueirei em direção à cama onde Amália dormia. Estendi minhas garras e as aproximei da cama. Ouviu-se um arranhar. Com alguns saltos, cheguei ao guarda-roupa. Soltei um suspiro alto. Aqueles sons, o arranhar e a respiração, soavam tão assustadores no escuro que eu me arrepiei involuntariamente. Ainda sentia os olhos de Sussurro em mim, ele certamente estava me observando para me provocar mais tarde. Mas e se alguém mais estiver me observando?
Virei-me para trás. Da escuridão, enormes olhos laranja brilharam para mim!
“Uááááá!”, eu gritei e saí correndo.
Corri para trás do armário tão rápido que derrubei Sussurro no caminho.
As crianças acordaram e se perguntaram o que foi aquilo.
“Deve ser os gatos brigando de novo lá embaixo da janela”, disse o menino mais velho. Ambos se acalmaram e voltaram a dormir.
“Por que você está agindo estranho?”, perguntou Sussurro, quando se levantou do chão.
“Alguém estava lá! E estava me olhando! Bufando, arranhando e tinha enormes olhos laranja!”, eu descrevi apressadamente, mal conseguindo respirar.
Sussurro bateu a pata na testa.
“Sustinho, você é um bobão! Você não sabe que há um espelho no armário? Você viu a si mesmo!”
“Eu pareço tão assustador assim?”
“Não, você parece assustado, isso sim. Mas, parabéns. Você acabou de se assustar com sucesso”, Sussurro sorriu, inclinou-se de trás do armário para o quarto e acrescentou: “E você colocou as crianças para dormir. O Tio Dorminhoco não chega nem perto.”
Então essa foi minha primeira tentativa de assustar. De acordo com Sussurro, não deu certo de jeito nenhum. Mas eu diria que deu certo até demais. Fiquei tão assustado que tive medo de olhar no espelho por dois dias.
