Era uma vez uma pequena fazenda cercada por morros verdes. Por toda parte se sentia o cheiro da chegada da primavera, e a natureza acordava devagar do longo inverno. As flores começaram a enfeitar os campos com sua beleza e seu perfume, e os brotos nas árvores brilhavam como pequenas estrelinhas.
Nessa fazenda da família vivia, junto com muitos outros bichinhos, um pintinho pequeno e curioso chamado Tico. Ele fazia como os outros pintinhos — ciscava na terra, saboreava grãozinhos e cantarolava sob o sol da manhã. Mas havia algo que o diferenciava dos outros: Tico amava flores.

Bem cedinho, quando seus irmãos acordavam e começavam a correr atrás de formiguinhas ou a cantarolar para o sol sorridente, Tico seguia sozinho para o jardim, onde passava o tempo admirando as flores coloridas. Encantado, o pintinho amarelo observava como as pétalas balançavam ao vento e como o perfume delas se espalhava por toda a fazenda.
“De novo só olhando essas flores? Você deveria ser mais como seus irmãozinhos. Flores não são para pintinhos!”, resmungou o velho galo Henrique, carrancudo, parado no jardim. Ele explicava a Tico o que um pintinho de verdade deveria fazer.
“Você tem que ciscar na terra, bicar grãozinhos, piar… e não ficar sonhando com umas flores coloridas!”, berrou, indo embora em seguida, com suas penas arrepiadas de irritação.
O pequeno Tico ficou triste. Todo mundo zombava dele por se perder sempre entre as florzinhas. Mas ele simplesmente as amava! Por isso, não deu ouvidos a ninguém e, todos os dias, voltava a visitar o jardim.
Numa manhã ensolarada, enquanto observava as flores dançando com o vento, uma voz suave o interrompeu.
“Vejo que você também gosta de flores, assim como eu…”, disse gentilmente a fazendeira Ana. Numa das mãos segurava uma cestinha e, na outra, um regador com água. “Todo dia vejo você admirando minhas flores. Que tal me ajudar a cuidar delas?”
Tico não entendia muito bem as palavras dela, mas ficou encantado com a tiara trançada de flores que Ana usava nos cabelos castanhos. Animado, aceitou a mão que ela lhe estendeu.
A fazendeira então colocou o pintinho no ombro, e, de lá, ele observava como ela cuidava das flores. Juntos, regavam e arrancavam o mato ao redor delas. Até mesmo Tico ajudava: com seu pequeno bico, puxava o matinho bem depressa.
Desde aquele dia, Ana e Tico cuidaram juntos das flores. Regavam, arrancavam matinhos e até plantaram novas flores ao redor do galinheiro. As outras galinhas olhavam admiradas para as cores lindas que o pequeno pintinho trouxe para a fazenda junto com a fazendeira.
Aos poucos, até os outros pintinhos, as galinhas e o velho galo rabugento Henrique pararam de zombar dele. Quando viram como Tico conquistou o carinho de Ana e como a fazenda floresceu graças a ele, não riram mais.
Embora não fizesse o que os outros pintinhos faziam, Tico descobriu que mesmo uma criaturinha pequena podia ajudar na fazenda, ainda que de um jeito um pouco diferente dos seus irmãozinhos.
E assim, Tico, o pintinho esperto que amava flores, transformou a fazenda num paraíso colorido e conquistou a admiração não só da fazendeira, mas também de todos os bichinhos da fazenda!