O pássaro azul

Em um magnífico castelo cercado por jardins cor-de-rosa e árvores centenárias, vivia o sábio rei Baltazar com sua única filha, a princesa Florinha. Era uma menina de coração bondoso e olhos tão claros que lembravam o céu da manhã. Adorava dar longos passeios pelos jardins do castelo, onde parava diante de cada flor, acariciava uma corça ou conversava com os passarinhos, que sempre lhe traziam novidades do mundo ao redor.

Num dia ensolarado, um pequeno pássaro cantor sussurrou em seu ouvido um segredo – o Príncipe Alexandre, do Vale Formoso, estava vindo ao castelo. Mas ele não era um príncipe qualquer. Florinha o conhecia desde um baile no reino vizinho, e desde então pensava nele com frequência – ele era seu amor secreto. E, ao que tudo indicava, ele também não a havia esquecido. Alexandre estava vindo pedir sua mão em casamento!

Mas nem todos no castelo eram tão bondosos quanto Florinha. A malvada rainha, madrasta que havia conquistado a confiança do rei com muita astúcia, e sua filha Matilde, uma menina mimada e orgulhosa, secretamente odiavam a princesa. Quando souberam que o príncipe queria se casar com Florinha, ficaram furiosas. 

“Matilde, esse príncipe será seu, nem que eu tenha que virar este castelo de cabeça para baixo!, resmungou a rainha, mandando trancar Florinha na torre mais alta.

Mas não adiantou, o príncipe Alexandre rejeitou Matilde com firmeza. 

“Meu coração pertence à Florinha e nenhuma outra me interessa.”, disse o príncipe.

A recusa deixou a rainha furiosa. Tomada pela raiva, procurou a velha feiticeira da Floresta Negra e lhe ofereceu um baú cheio de ouro em troca de uma maldição. Naquela mesma noite, o príncipe Alexandre foi transformado em um pássaro azul de olhos tristes.

Enquanto isso, Florinha continuava  presa sozinha na torre escura. Numa noite silenciosa, foi surpreendida por um pássaro de beleza extraordinária que pousou em sua janela.

“Sou eu, Alexandre”, sussurrou. 

Ao ver seu amado daquela forma e entender tudo que havia acontecido, Florinha não se desesperou. Pelo contrário, sentiu nascer em seu coração uma grande coragem.

Ela resolveu então pedir ajuda a seus amigos animais: a ratinha e a coruja. A ratinha trouxe a chave que havia conseguido pegar nos aposentos da rainha. Assim, Florinha se libertou e pediu à coruja que a levasse até o mago Zelibor, que vivia, segundo diziam, nas profundezas da floresta. Alexandre, ainda na forma de um pássaro azul, pousou em seu ombro e seguiu viagem com elas floresta adentro.

Quando chegaram à casinha de madeira de bétula do mago, Florinha contou tudo o que havia acontecido. Sua coragem e seu amor tocaram o coração do mago Zelibor, que aceitou ajudá-la. Preparou então uma poção mágica que quebrou a maldição, e fez Alexandre voltar à forma humana. Os dois retornaram ao castelo antes do amanhecer.

Mas a rainha e Matilde não escaparam da justiça. Com um simples movimento de sua varinha, o mago Zelibor as transformou em porquinhas. 

“Permanecerão assim até que sintam verdadeiro arrependimento por tudo que fizeram a Florinha e Alexandre.”, declarou.

Matilde, que ainda era jovem e não tinha seu coração totalmente endurecido, logo se arrependeu. Depois de alguns dias com o corpo de porco, ela chorou, pediu perdão e implorou uma nova chance. Zelibor, então, devolveu-lhe a forma humana. Mas a rainha má não demonstrou nenhum arrependimento — e provavelmente até hoje está por aí, grunhindo e cavando a terra com o focinho..

E a história termina com alegria. Junto com Florinha e Alexandre, a felicidade voltou a reinar no castelo. Algumas semanas depois, houve um casamento grandioso — o povo festejou por três dias e três noites, com jardins iluminados por milhares de lampiões. Florinha e Alexandre prometeram um amor fiel, que durou até o fim de seus dias.