O poço encantado

Em algum lugar entre as altas montanhas, havia uma pequena aldeia. No fim daquela aldeia, numa choupana modesta, vivia um jovem pobre, chamado João, com sua mãe. A mamãe já estava adoecendo, mas mesmo assim se esforçava como podia. A família se sustentava vendendo tudo o que conseguia. 

Joãozinho era um menino habilidoso: sabia trabalhar no campo, cuidar dos pintinhos, e, assim, sempre conseguia vender pelo menos a colheita e alguns ovinhos na feira. Sua mãe, por sua vez, recolhia galhos com os quais tecia cestinhas lindíssimas. Joãozinho ficava contente quando tinha algum trabalho extra, ajudando com reparos ou afazeres da casa, mas isso não acontecia com frequência.

Histórias para dormir pequenas - O poço encantado
O poço encantado

O dinheiro que ganhavam mal dava para o sustento, mas Joãozinho sonhava que um dia teria o suficiente para reformar a casinha. Afinal, o telhado estava velho, a lareira quebrada, e ele não queria que sua mãe adoecesse ainda mais no inverno. Certo dia, partiu para a feira com suas cestinhas e ovos, como sempre fazia.

Sentado ali, triste, esperando os clientes, apareceu um senhor idoso que morava não muito longe dali.

“Olá, Joãozinho, como vai? Você parece triste. Você poderia me dar alguns desses seus ovos caipiras? Eles são realmente os melhores.”, disse o senhor, parando perto dele.

“Ah, Senhor, o que eu posso dizer? O inverno está chegando e eu queria reformar a nossa casinha. Mamãe está doente, e eu não quero que ela sofra mais, mas não temos dinheiro. O que ganho aqui mal dá para sobreviver.”, lamentou-se Joãozinho, entregando os ovinhos ao senhor.

E então o senhor fez sinal para que ele se aproximasse. Joãozinho chegou mais perto, e o senhor sussurrou:

“Ouvi dizer que lá no alto da aldeia, além da floresta, há um poço. Mas não é um poço qualquer. Basta jogar uma moeda nele, e ele realiza qualquer desejo que você tenha. Só tome cuidado para que ninguém veja e não conte isso a ninguém. Nem todas as pessoas são boas.”

Para Joãozinho, o conselho pareceu meio estranho, mas pensou que não custava nada tentar. Então, ao anoitecer, partiu para a floresta, seguindo as instruções daquele senhor. 

Vagou no escuro, entre as árvores, acendendo fósforos para iluminar o caminho, até que, finalmente, avistou por trás de arbustos altos o poço. Aproximou-se devagar, pensando na loucura que estava prestes a fazer. Por fim, tirou uma moeda do bolso e a jogou no poço, estranhando não ouvir a moeda bater no fundo nem o som da água.

“Desejo ter dinheiro suficiente para consertar o telhado e comprar uma lareira nova para a mamãe…”, disse baixinho, voltando lentamente para casa em seguida.

A essa altura, não estava esperando por mais nada, mas, ao chegar em casa, encontrou sobre a mesa uma bolsa com dinheiro suficiente para um novo telhado, uma lareira e tudo o que precisava para o inverno. Joãozinho contou tudo para a mãe, que ficou muito feliz.

Alguns dias depois, quando Joãozinho voltou para a feira, aquele senhorzinho passou por ali de novo e mencionou o poço encantado. Joãozinho acenou para ele, o senhor se aproximou, e o rapaz então murmurou:

“Obrigado, senhor, por um conselho tão valioso. De fato, funcionou. Nem sei como agradecer.”

“Não precisa agradecer. Fico feliz se pude ajudar alguém que realmente precisava.”, respondeu.

Nesse momento, foram interrompidos por um grito:

“Ladrões! Socorro!”

Joãozinho olhou rápido na direção do som e viu dois homens fugindo com uma bolsa. Eles tinham vantagem, mas Joãozinho correu atrás deles. O que achou estranho foi que os homens foram direto para a floresta. Joãozinho conhecia bem aquele caminho e sabia onde chegariam: ao poço. E era justamente a mesma hora da noite em que ele mesmo esteve lá.

Os ladrões chegaram ao poço e começaram a jogar dentro dele o dinheiro roubado. Pediram em troca diversas futilidades: joias preciosas, tesouros e riquezas. 

Joãozinho achou uma crueldade e não se conteve. Saiu correndo dos arbustos de onde observava, assustando os ladrões, que caíram no poço. 

A bolsa ficou na beirada do poço, mas dentro dela só restava uma última moeda. Isso não devolveria muito para a senhora que havia sido roubada. Mas Joãozinho teve uma ideia melhor. Afinal, estava diante do poço encantado. Jogou a moeda no poço e fez um pedido:

“Desejo que todas as coisas que foram roubadas sejam devolvidas aos seus donos.”

Acredite ou não, naquela noite muitas pessoas ficaram felizes. Joãozinho voltou mais uma vez ao poço, pois se deu conta de que aqueles homens não eram os únicos trapaceiros do mundo. Por isso, desejou que pessoas gananciosas nunca conseguissem encontrar o poço encantado.

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